Sugestões de educadores indígenas para começar o reflorestamento de consciencia.
Nós, do Kurumi, temos um forte compromisso com o objetivo de reflorestar a consciência da sociedade ocidental. Embora possamos ser considerados idealistas, nossa intenção é revitalizar as escolas em diversos aspectos: no ambiente físico, nas práticas, nas mentalidades e nas políticas de diversidade. Para iniciar esse processo, queremos convidar você, educador, para uma reflexão sobre a relação com a natureza no contexto escolar.
A colonização não só arrancou os povos indígenas de seus territórios, como também impôs uma visão estrangeira de natureza que ainda é refletida no ambiente escolar.
Nas escolas, se há verde, ele se limita a campos de futebol- espaços de verde útil - ou a jardins floridos - espaço de verde estético - onde as plantas não florescentes não têm lugar. Assim, qualquer vegetação que não atenda a critérios utilitários e estéticos pré-estabelecidos é arrancada, especialmente quando perde as flores, sem espaço para seu ciclo natural.
E, se por acaso a natureza é representada de forma “tolerável,” muitas vezes se limita a flores de garrafa PET, criando um ambiente artificial que distancia ainda mais a conexão genuína com o que é natural e verdadeiro. Esse uso de materiais descartáveis para embelezar os espaços reforça a ideia de que a natureza é vista como um elemento decorativo, que pode ser substituído ou modificado a qualquer momento, sem consideração pelo que realmente representa.
Esse padrão é ainda mais evidente quando observamos que, apesar de o Brasil ser o país com maior diversidade vegetal do planeta, com 46 mil espécies, a jardinagem das escolas, principalmente as de elite, usa majoritariamente plantas estrangeiras.
A cica, planta muito comum na jardinagem em escolas, oriunda da Ásia.
Em vez de flora nativa, encontramos plantas como a flor camarão, de origem mexicana; a orquídea phalaenopsis, holandesa; a cica, da Ásia; e o buxinho, europeu. Esse paisagismo exótico perpetua o apagamento das espécies locais, assim como as escolas perpetuam o distanciamento de identidades indígenas.
A exclusão de plantas nativas e a adoção de uma natureza "estrangeira" refletem o mesmo distanciamento que uma pessoa indígena sente ao pisar nesse território. Não há espaço para o que é autêntico e natural em um lugar que prefere a aparência ordenada, polida e importada.
Para a escola, tanto a natureza quanto a cultura indígena só têm espaço quando podem ser moldadas e exibidas segundo normas coloniais – em jardins controlados, em gramados simétricos, e, em um calendário que se baseia no estrangeiro, num único dia para celebrar, à grosso e preguiçoso modo, a nossa origem, o tal "dia do índio".
Esse é ponto que eu quero chegar contigo, leitor e educador : Um espaço que não acolhe a natureza em sua forma mais autêntica, respeitando seus ciclos e sua diversidade, é o mesmo que rejeita a cosmovisão indígena. A maneira indígena de estar no mundo é intrinsecamente ligada à terra e aos seres que nela habitam.
A escola, enquanto espaço que se diz aberto à diversidade, muitas vezes não se prepara para acolher a pluralidade das experiências e culturas.
Pessoas indígenas até são toleradas na escola, mas só podem expressar cultura no dia do "indio".
O que fazer a partir disso?
Desenvolver um projeto colaborativo de reflorestamento escolar que promove a conscientização sobre a importância da flora nativa e seu valor cultural, ecológico e simbólico para os povos indígenas. Ao final, os alunos apresentarão um plano de ação detalhado e a criação de mini jardins nativos na escola.
Metodologia:
Utilizaremos duas abordagens: Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) e Aprendizagem Baseada em Projetos (PBP). A primeira fase será orientada para a resolução de problemas, enquanto a segunda fase se concentrará na criação de um produto final (o mini jardim nativo).
Definição do Problema (ABP):
Problema Inicial: A escola possui poucos espaços verdes naturais e utiliza principalmente plantas exóticas e ornamentais. Como criar um espaço de valorização da flora nativa que reflita o respeito pelos saberes indígenas?
Discussão: Em grupos, os alunos discutem por que a flora nativa é importante, tanto para o ecossistema quanto para a valorização da cultura indígena.
Identificação do que Precisam Saber: Cada grupo lista informações e habilidades que precisam aprender para resolver o problema, como conhecimentos sobre plantas nativas, técnicas de jardinagem, história dos povos indígenas locais, etc.
Pesquisa e Planejamento (PBL):
Os grupos se dividem em tarefas de pesquisa (botânica, cultural, ecológica), coletando informações sobre a flora nativa local e seu valor cultural.
Os alunos planejam o formato e o local de um jardim nativo, considerando quais plantas são adequadas e como criar um espaço sustentável e educativo.
Cada grupo esboça um plano de ação para montar o mini jardim, anotando as etapas e materiais necessários.
Desenvolvimento do Projeto (ABP):
Medição e Escolha do Espaço: Os alunos medem o espaço disponível na escola para determinar o tamanho e a disposição dos mini jardins.
Escolha das Plantas: Com a ajuda de especialistas locais ou da comunidade, selecionam plantas nativas que podem ser cultivadas em vasos ou canteiros.
Criação dos Mini Jardins: Utilizando materiais recicláveis e sustentáveis, cada grupo monta seu jardim. Eles devem incluir placas informativas sobre cada planta, seu nome, e seu valor para a cultura indígena.
Produto Final (PBL):
Apresentação: Os alunos apresentam seu mini jardim e seu processo de criação para a turma ou escola. Cada grupo explica como o projeto reflete a importância da flora nativa e como o mini jardim contribui para a sustentabilidade e a valorização cultural.
Reflexão e Avaliação: Cada grupo reflete sobre as dificuldades e os aprendizados do projeto. Alunos e professores avaliam o projeto com base no processo (pesquisa, planejamento, trabalho em equipe) e no produto final (mini jardim).
Escrito por Aiyra em 12/11/2024.
mt bom. como que eu compro a apostila do fundametal ? tem?
Adorei o texto nunca tinha pensado nisso já comprei a apostila do educador e estou amando
É uma pena a escola ser assim... Mas que bom que existem profes que estão dispostos a fazer diferente